sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Nostalgia dos cinemas de rua em Porto Alegre



Recebo a notícia de que um supermercado Zaffari vai inaugurar onde funcionou durante anos o Cine Cacique, na Rua dos Andradas, no Centro de Porto Alegre. Longe de abominar o capitalismo ou algo do tipo, só tenho lembranças boas dos cinemas de rua.

A primeira lembrança de uma ida ao cinema remete a “Superman - O Filme”, ainda em São Paulo. Fui levado pelo meu irmão e quis sair antes do final da sessão. OK, a primeira vez não foi lá essas coisas, mas plantou uma semente.

Já em Porto Alegre, o hábito de ir ao cinema se tornou mais constante. Morava no bairro Menino Deus, que tinha o seu cinema: o Marrocos, no final da Avenida Getúlio Vargas (depois virou estacionamento e pizzaria). Pela proximidade, era só trocar o filme, e lá eu estava.

Outro cinema muito frequentado por mim era o Roma, na Azenha. Perto de onde vários colegas de 1º Grau (atual Ensino Fundamental) moravam, era um destino constante na tarde de domingo. Até porque era bem mais barato que as outras salas.

No Roma, funcionava assim: depois de uma ou duas semanas em cartaz nos principais cinemas, os blockbusters entravam em cartaz no Roma, a um preço bem mais baixo. Como era fácil de chegar, eu aproveitava. Naquela época, pouco ligava para a qualidade das salas. O que importava para mim era assistir o filme. E só. O Roma, por exemplo, era um “pardiero”. E eu estava sempre lá.

Os cinemas “top” eram no Centro. Tinha o Victoria, com longas filas que começavam na porta do cinema, na esquina da Borges de Medeiros com a Andrade Neves e terminavam só na Rua da Praia (especialmente quando eram exibidos os longas dos Trapalhões). Até hoje, os Victoria 1 e 2 estão numa galeria, pertinho do endereço de outrora, bem menores do que antes.

O Imperial (que depois foi dividido e teve seu mezanino transformado no Guarany), na Praça da Alfândega, também era um dos que exibiam os grandes lançamentos.

Outro “grandão” do Centro era o Cacique, que muitas vezes tinha sessões lotadas para seus mais de 1,5 mil lugares. Tinha até direito a pinturas do Glauco Rodrigues. Um luxo. É esse lugar que agora vai ser um Zaffari. Na década de 80, depois do fechamento, um incêndio atingiu o Cacique e o Scala (que funcionava no mezanino), detonando o que lá restava, incluindo as pinturas do Glauco. Me lembro que lá ainda funcionou um estacionamento. Também pudera, era um latifúndio de cinema.  

É difícil eu não ter ido a algum cinema naquela época, Até porque era aficionado. Se tinha algum filme passando que quisesse ver, dava um jeito de chegar, mesmo que fosse na Protásio Alves; na 24 de Outubro, na Independência ou na Assis Brasil.

Não posso deixar de falar do Bristol, que era na Osvaldo Aranha, no Bairro Bom Fim, ao lado do enorme Baltimore. Foi lá que, digamos, eu tive minha graduação em “educação cinematográfica”. Funcionava assim: durante uma semana, a sala tinha um ciclo de filmes, dentro de uma temática que podia envolver temas ou  cineastas específicos. Uma semana de “Guerra nas Estrelas” (os três primeiros da série) ou de Akira Kurosawa, por exemplo. Para uma criança/adolescente muito interessada, era o ápice. Ah, as sessões da meia-noite do ABC (na Venâncio Aires) também eram memoráveis.

Aos poucos, pude testemunhar as grandes salas sendo fatiadas, virando 1, 2, 3 e até 4, como no Baltimore. Depois, foram sendo fechadas. E os cinemas em shoppings foram tomando conta.do campinho.

Tenho saudade dos cinemas de rua, mas não lamento por completo. É uma evolução: cadeiras mais confortáveis, limpeza, banheiros decentes, estacionamento, segurança e outras mil facilidades que um centro de compras oferece. Só resta lembrar de uma época boa.