quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pau-ferro


"Has he lost his mind, can he see or is he blind..." Saí do cinema com a música do Black Sabbath na cabeça. Foi mais ou menos assim: me senti um pouco adolescente depois de ver o Homem de Ferro. Primeiro, é um espetáculo visual. Os efeitos especiais são perfeitos para as cenas de ação no solo ou nas alturas. Sensacional a cena em que ele é perseguido por dois caças.

Segundo, é baseado em uma história em quadrinhos da Marvel que nunca havia ganho uma chance de chegar às telas. E olha que o Iron Man já tem mais de 40 anos. É do tempo da Guerra Fria.

Mas o herói não chega enferrujado ao século 21. Ganha atualidade com a história (meio boba, vamos combinar) do milionário que, depois de ser capturado e conseguir escapar de guerrilheiros afegães, resolve sair voando por aí numa armadura vermelha e dourado. A aventura faz com que ele repense a indústria de armas da família.

Moralista como pode ser, mas com um toque legal de canalhice, injetado por Robert Downer Jr. (aquele que teve problemas com drogas, mas que um dia já foi Chaplin). Pois não é que ele exala ironia (e bem)? Ao lado de Jeff Bridges (o vilão careca, quase irreconhecível), é um dos destaques do filme.

Para fechar na boa, Iron Man do Sabbath. Não dá para esquecer que lá, bem no início, tem Back in Black, do AC/DC. Diversão heavy metal do começo ao fim. Custou R$ 4 voltar aos 15 anos por duas horas. Bem mais barato que uma aplicação de Botox.


***


Última sessão do Iron Man em Santa Maria. Estréia mundial. Lotadaça. Fila do Gargarejo. Pipoca. Bib's. Peguei na mão dela. Público comportado. Meia-entrada. 2 elevadores. Celulares quietos. Evolução. Luz, câmera, ação.

Chegou a hora

Tem dias em que você termina o dia de trabalho se sentindo um lixo. Acordou cedo, tentou facilitar a vida de todo mundo, não foi mal-educado com ninguém, esforçou-se etc etc etc. Mas, no final das contas, não adiantou nada. Em alguns segundos, vem alguém e, como se você não valesse nada, despreza parte do que foi feito, sem nem dar satisfação.
É nessas horas em que você se pergunta se é isso mesmo que quer na vida. Claro que há os momentos felizes. Mas certos instantes levam tão para baixo que apagam tudo de positivo. E esses são mais difíceis de curar.
Ou mudam os outros ou muda você. Como é mais fácil a mudança singular, chegou a hora de pensar nela. Senão vai haver uma hora em que o fundo do poço está bem mais perto do que a superfície.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Não sei nada!

Depois de fazer uma reportagem sobre blogs, fiquei angustiado. Cada vez leio mais coisas sobre o assunto e percebo que, na verdade, sei muito pouco. Aliás, aprendi várias coisas fazendo essa matéria, conversando com blogueiros e, claro, olhando os blogs dos outros.
O santaporto, na verdade, é uma chinelagem perto do que tem por aí. É uma formiguinha. Para me tornar alguém na blogosfera, vou ter de ralar muito.
Mas, pelo menos, sei que este blog motivou muitas pessoas a fazerem o seu. Ele também me inspirou a fazer uma reportagem para a Revista Mix, a primeira depois de quatro anos e meio de Diário de Santa Maria. Já são alguns pontos a considerar.
Esse trololó é para contar que pretendo me dedicar ao assunto, academicamente falando. Não só aos blogs, mas aos novos formatos de comunicação em geral. Até coloquei uns links novos aí do lado, para compartilhar com os visitantes. Façam bom proveito e dividam comigo suas dúvidas e descobertas. Quem sabe assim fico menos angustiado.

domingo, 27 de abril de 2008

Até na testa

Ano passado, por uma série de coincidências e imprevistos, acabei interrompendo um sábado de descanso para virar repórter. A pauta era a campanha nacional de vacinação contra a paralisia infantil. Aquela coisa de sempre. A única quebra de rotina foi uma cover da Xuxa em um posto de saúde. Ela até assustava algumas crianças, mas não deixava a desejar em animação...
Entra mãe, sai filho, gotinhas para lá, choros para cá... Nada extraordinário. Até que uma enfermeira faz uma proposta:
- Vocês não querem tomar uma vacina contra a gripe?
A proposta era para mim e para o fotógrafo Claudio Vaz. Até brinquei:
- Mas, bá, pode aplicar até aqui na testa.
Claro que a enfermeira não riu. Afinal, a piada era ruim e velha. Mas eu tenho certeza que, no seu rosto, havia um sorriso sádico no momento em que meu braço estava nu, à espera da picada. Não fiz escarcéu. Talvez por isso ela tenha ficado um pouco decepcionada...
Faltava ainda um mês e pouco para o fim do inverno. Depois disso, gripe nunca mais. Apesar de eu não ter chegado aos 60 anos (meu figado, talvez), posso até dar depoimento na TV, a favor da vacina. Ela funciona!
Lembrei dessa história porque estou há dois dias com o nariz fungando, tossindo e com dores pelo corpo. Não sei se tenho febre, pois termômetro é uma coisa ausente da minha casa. Enfim, uma maldita gripe me enganou, me atacou antes do inverno. Felizes são os velhinhos que ainda não foram atacados por esse vírus sorrateiro e puderam se prevenir com a campanha de vacinação deste ano, que começou no sábado.
E quanto a mim? Agora, só me resta a Coristina, o Melagrião e a cama. Assim que esse mal-estar for embora, vou tomar aquela injeção de novo. Quanto mais sádica for a enfermeira, melhor. E, se for na testa, não tem problema.

Tempo frio, cores quentes





Se você estava de ressaca no sábado de manhã, em Santa Maria, perdeu esse amanhecer... Como sou um rapaz estudioso, levantei cedo e resolvi socializar essa visão com esse pessoal que afunda o pé na jaca ou vai dar risada no César Menotti & Fabiano.



***


Em tempo: peço desculpas àqueles que visitam este blog pela ausência durante uma semana. É que, com tanta coisa para estudar e escrever, não deu. Mas tudo voltou ao normal agora.

sábado, 26 de abril de 2008

Sem passar despercebido

Lance Luiz Roese entre aspas no Google e você vai descobrir que eu fiz reportagens sobre acidentes, operações policiais, treinamento da Brigada Militar, rebaixamento do Guarani de Bagé e sobre o leão que atacou um menino no circo e foi eletrocutado (esta a de mais aparições no buscador), entre outras. Ainda dá para achar uma foto que eu fiz quando estava na faculdade e descobrir que eu sou fã de Nei Lisboa e trabalho no Diário de Santa Maria. Para completar, o Google revela que eu moro em Santa Maria e tenho este blog (que, por sua vez, mostra muito sobre mim).
Já os que sabem meu nome completo podem descobrir o tema da minha monografia no Jornalismo da UFRGS (e quando eu a defendi) e ainda que eu fui selecionado para uma especialização na Unifra.
É de assustar que, só pelo Google, seja possível descobrir tanta informação sobre mim. Se juntar com o Orkut, então... Ou seja, não posso mais desaparecer, pelo menos virtualmente. Não vejo prestígio em ser citado cerca de 200 vezes no site...
É um reflexo do momento atual. Cada vez mais temos menos privacidade. Se quisermos viver em sociedade, é indespensável ter celular e e-mail. E ambos podem ser monitorados. Nas ruas, temos câmeras. E, na Internet, quase toda uma vida revelada. É o preço que se paga por fazer parte de uma comunidade. Seja ela real ou virtual. Assim que funciona: Big Brother ou exclusão. O que você prefere?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Dá lucro, sim

Ter alguém ao lado é um sistema não-capitalista. Você faz trocas: de idéias, de carinhos, de momentos, de segredos, de idéias, de prazer, de sentimentos... E, no final das contas, dá muito lucro.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Vem aí uma decisão


Não lembro exatamente quem era o adversário. Só recordo de um domingo meio frio e chuvoso. E não fui nem para as arquibancadas, ocupei um lugar nas cabines de imprensa do Presidente Vargas, para fazer companhia ao repórter Carlos Ferreira. Isso faz uns três anos.

Que choque de realidade! O estádio, praticamente vazio. O gramado, um potreiro. E o jogo? Bah, sem comentários. Chutão prá lá e prá cá. Zero lance de brilho. Confesso que me decepcionei e pensei em nunca mais voltar. Parte importante: o Inter-SM ganhou. E continui freqüentando a Baixada Melancólica (no início, pensei que o estádio era apelidado assim por causa do nível futebolístico, mas não, tem relação com a proximidade do Cemitério Ecumênico).

De lá para cá, tudo mudou. Agora, as arquibancadas lotam, o gramado deixa a bola rolar tranqüilamente, e o nível futebolístico é incomparável à perebice de outrora. Só uma rotina continua: ao acompanhar o jogo no estádio, nunca, mas nunca mesmo, vi o Interzinho perder. Se a escrita for mantida, a presença do time de Santa Maria na final do Gauchão está garantida.

Claro que agora o nível de exigência é bem maior. E é difícil continuar como pé-quente para sempre. Mas, pelo menos neste domingo, dá para acreditar que nada vai mudar. Pelo menos no jogo contra o Juventude. Basta um empate. Os deuses do futebol não seriam tão travessos assim.

Para o time que me deu a oportunidade profissional de escrever uma crônica de jogo e manteve o meu deleite de freqüentar um estádio de futebol (como já escrevi aqui), minha homenagem e minha torcida. Para os supersticiosos, uma certeza: estarei lá no domingo (o Maurício, que não fica prá trás em matéria de "pé-quentismo", também).

terça-feira, 15 de abril de 2008

Espirito libertário

Dá para dizer, sim, que esse blog mudou minha existência. Pra mim, é um deleite escrever sobre qualquer assunto. E o santaporto me deu esse espaço.
Como tá no meu perfil, sou jornalista. Logo, sou pago para escrever. Mas a profissão não se resume a colocar as linhas no papel. Não vou nem falar no fato de que o cara pode ser de TV ou de rádio e passar sua mensagem somente com a voz ou com o gestual + voz. Mesmo trabalhando em um jornal, existem dezenas de funções que não são relacionadas diretamente ao trabalho de produzir um texto.
Sem falar nos limites. Como empregado assalariado, há regras a seguir. Em um veículo de comunicação de massa, a mensagem tem de atingir um público médio, que até pode se ofender com o que eu escrevo aqui. Ou achar tudo uma grande babaquice, um instrumento de megalomania.
Por isso, valorizo essa liberdade textual. E me sinto muito bem com ela. Esse é o espírito dos blogs. O santaporto, por exemplo, tem diário, resenhas culturais, fotos, recados para os amigos e, até, desabafos.
Ao fazer uma pesquisa em blogs de Santa Maria, deuuma certa felicidade ao ver que muita gente anda se libertando das amarras e colocando um pedaço de si para o mundo. Tem de tudo. Da vovó que coloca poesias e fotos à adolescente que dá opiniões firmes sobre o que enxerga. Daos professores que criaram um canal de ligação com seus alunos às artesãs que vendem chaveiros ou bonecas. Exposição pura e, acredito, sinceridade. Construções individuais que formam um coletivo sem homogeneidade, com diversidade.
Até onde isso vai, não sei. Se é uma moda, também não consigo dizer. Mas é um retrato do nosso tempo. E sem censura, o que é o mais importante. Se você não gosta de alguns blogs (ou até deste), tem o direito de criticar. Assim como quem os faz tem o direito de não ligar para o que você acha. Liberdade é assim mesmo.


Em tempo: pra não dizer que tem blog de tudo, olha essa chalaça aqui.

domingo, 13 de abril de 2008

Amigos para sempre

Em apenas duas semanas, pelo Orkut (e eu que falava mal dele...), encontrei duas amigas que foram muito importantes na minha vida, a Gisleine e a Luciane. As duas, em épocas diferentes, dividiram a sala de aula comigo. Nem foi tanto tempo assim, mas valeu para a vida toda.

A Luciane foi minha parceirona, um ombro amigo que me consolava e me animava. Ela sempre me ajudava (ou tentava) a fazer meu lado com as gurias de quem eu gostava. E aprontamos muita coisa juntos... Mesmo quando ela saiu da Azenha prá morar com uma tia em Teresópolis e já não éramos mais colegas, ainda mantivemos contato por um tempo. E, durante anos, ficava sabendo das notícias pela mãe dela, que cortava o meu cabelo.

A Gisleine morava a umas duas quadras da minha casa. E sempre voltávamos a pé da escola. Muito mais do que minha primeira paixão, ela se tornou uma grande amiga. Mesmo depois que a Gilseine se foi de Porto Alegre, trocamos cartas por algum tempo. Cartas, acredita? Era uma era pré-internet. E até hoje guardo aquelas correspondências. Que podem ser inocentes, mas de fundamento.

A sensação desse reencontros, mesmo que eles sejam ainda virtuais, é indescritível. A Luciane e a Gisleine tiveram grande significado na minha vida e saber que elas estão bem é sensacional. Que alegria vocês me deram, amigas! E como é bom, 20 anos depois, ainda podê-las chamar assim.

Testando limites

É uma peça de teatro, mas não há palco nem platéia. Em Provokações - Labrinto Teatral, os protagonistas são alunos do curso de Iniciação Teatral da Escola de Artes Eduardo Trevisan (Emaet), mas o espectador também acaba virando ator.
Você entra dentro de um cenário e passa por situações incomuns, interagindo com os verdadeiros atores. O lance é acompanhar o trajeto em uma espécie de labirinto com objetos, tecidos, teias e sons. Ao longo da trajetória de perfomances, os sujeitos tentam despertar as reações de quem os visita. Pode ser meio de olhares, sussuros, danças, toques ou massagens. É uma experiência forte, que testa os limites. Tem que estar preparado.
Seja qual for o seu mundo, sai de lá diferente. Mesmo ao repetir a dose, na Casa de Cultura de Santa Maria, continuo achando tudo muito estranho. E quero mais.


"Disfarça, tem gente olhando.
Uns, olham pro alto,
cometas, luas, galáxias.
Outros, olham de banda,
lunetas, luares, sintaxes.
De frente ou de lado,
sempre tem gente olhando,
olhando ou sendo olhado.
Outros olham para baixo,
procurando algum vetígio
do tempo que a gente acha,
em busca do espaço perdido.
Raros olham para dentro,
já que dentro não tem nada.
Apenas um peso imenso,
a alma, esse conto de fada."
(Rumo ao Sumo, poema de Paulo Leminski que é sussurado durante Provokações)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Cheiro de filme bom


No início, vem o título: O Cheiro do Ralo. Logo depois, um close em uma bunda feminina andando pela rua. Não demora muito, e aparece um protoganista insuportável, cuja frase para definir sua vida é "Eu não gosto de ninguém".
Como esses elementos, pode parecer difícil gostar de um filme desses. Mas bastam alguns minutos para notarmos algo diferente. A começar pelo Selton Melo, que deixa de lado seus cacoetes costumeiros para encarnar um crápula, um canalha. Ele é Lourenço, dono de uma loja de penhores que sempre avalia com um certo desprezo as mercadorias recebidas. Do banheiro do local de trabalho, vem um cheiro insuportável do ralo, que parece impregnar sua vida cheia de falhas e ausências.
Obcecado por uma mulher - ou melhor, pela bunda dela -, ele vai levando sua vidinha ordinária. Pela loja, desfilam tipos que vão do trágico ao hilariante. O roteiro tem diálogos que fazem você querer ouvir algumas coisas novamente. Até mesmo as grosserias costumeiras de Lourenço são engraçadas.
Tem figurino, tem direção de arte, tem fotografia. E conta bem uma história, criada pelo quadrinista Lourenço Mutarelli. Já conhecia os grafismos dele, e nunca imaginei que o cara pudesse criar uma história tão cruel com tanto humor negro e que ainda ela virasse filme. Para completar, ainda deu uma de ator, sem dever nada prá ninguém, no papel de segurança da loja, com seu indefectível terno vinho.
Para essa avalanche de filmes estilo Rede Globo, um antídoto pode vir de criações como o Cheiro, onde tudo é feio, mas o resultado final é lindo.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Riscos existem. Eu rabisco

Lá se vão 10 anos de carreira no jornalismo, entre coluna em jornal de bairro, estágio em prefeitura e jornais diários. Nesse tempo todo, dá para contar nos dedos as vezes em que minha integridade física correu algum risco.

A primeira ocorreu em 1999, quando ainda era um mero estagiário da prefeitura de Viamão, na Região Metropolitana. Só que lá estagiário era gente. Até demais. Trabalhava bem mais de cinco horas e, quase sempre, ainda ficava engatado no fim de semana.
Pois foi numa noite quente de sábado que vi a morte de perto. E não foi nada tão poético como em O Sétimo Selo, do Bergman. Minha tarefa era fotografar o 1º Festival de Hip Hop, na Praça Júlio de Castilhos, no Centro. Um palco foi montado entre o Centro Administrativo e a Casa de Cultura, bem no Centro, para receber cerca de 30 grupos "de mano". Ah, eu também tinha de escrever a respeito, claro.
Passava das 10 da noite, e tudo ia bem. Não sou brigadiano, mas arrisco que havia umas 500 pessoas prestigiando o festival. Lá pelas tantas, bem do lado do palco, rolou uma pancadaria. Até aí, tranqüilo. Eu estava em cima do palco, bem de canto, só olhando a confusão. E não é que um maluco resolve sacar um revólver? Bom, a bala comeu. Até hoje não consegui assimilar quantos tiros foram dados, mas arrisco que chegou a meia dúzia. Ainda bem que o cara era meio perturbado. E muito ruim de mira.
Os disparos foram a esmo e não acertaram ninguém. E hoje até acho graça da correria. Saiu gente para tudo o que é lado, em tempo recorde. Inclusive o atirador. Eu não me mexi. Fiquei meio catatônico com aquilo tudo.
Já tinha visto tiroteio de perto quando criança, depois de um assalto a banco no Menino Deus. Também já visitei a casa de um amigo bem na hora em que o namorado da irmã dele, com um três-oitão, resolveu fazer a residência de alvo, no Partenon. Mas nada como essa experiência na vida adulta, na profissão.
Depois do tumulto, alguns manos continuaram a mostrar sua poesia. Só que muitos refrões pedindo paz perderam o sentido naquela noite. Tanto que menos de 50 pessoas permaneceram fiéis ao festival. Nem a Brigada Militar ficou, talvez porque a maioria era negra e pobre.
Episódios como esse revelam quão frágil pode ser a vida. Não fui herói nem pretendo ser, a não ser que a situação exija muito. Afinal, penso nos que gostam de mim e que gostariam de continuar tendo a minha presença por perto.

Lembro tudo isso porque fiquei sabendo nesta segunda-feira, Dia do Jornalista, que algumas pessoas querem a minha cabeça, literalmente, por conta de coisas que escrevi no jornal. Não tenho medo, mas prometo que vou me cuidar. Pois quero continuar atualizando este blog por um bom tempo.

***

Aguarde. No próximo capítulo das situações arriscadas, o dia em que, entre a Santa e o Porto, tinha um assalto a carro-forte.

Que venha o Juventude

Ainda bem que o Inter-SM existe para me consolar. Porque o Grêmio...
Confesso que até ando torcendo mais para o time de Santa Maria, pelo menos no Gauchão. Para quem assistiu partidas na Segundona, com jogadores meia-boca, gramado podre e arquibancada vazia, dá um orgulho agora de ver o Interzinho entre os quatro melhores no campeonato e o estádio cheio. Que venha o Juventude!

sábado, 5 de abril de 2008

A bela dor de Piaf


Marion Cotillard. Não a conhecia e não vou esquecê-la tão cedo. Vencedora do Oscar de melhor atriz pelo papel-título de Piaf – Um Hino ao Amor, essa francesa opera uma transformação física radical no filme. De uma jovem faminta e desbocada ela vai até a mulher enrugada e frágil que, no final da carreira, mal conseguia ficar de pé sozinha. Irretocável na expressão corporal e na dublagem de canções, ela chega para arrasar na última cena, na qual Piaf dá seus últimos suspiros artísticos na interpretação de Non, Je Ne Regrette Rien (Não, Não Me Arrependo de Nada), uma das últimas canções que gravou.
Em tempos tomados pela insensibilidade, o filme-biografia mostra o quanto a dor pode ser bela e nos ensinar a viver o amor e a se revoltar. Depois de uma vida nada comum, a cantora francesa morreu em 1963, aos 47 anos, com a aparência de quem tinha muito mais do que essa idade, em razão de reumatismo, muita morfina e doses cavalares de infelicidade.
Dá para ficar refletindo horas a respeito. No caso de Piaf, que foi abandonada pela mãe, chegou a viver no bordel da avó e quase ficou sem poder enxergar com seus belos olhos azuis, o talento extraordinário foi uma espécie de destino. Pode não ter anulado os outros destinos traçados para ela, mas foi forte o suficiente para guerrear com eles e superá-los. Sobrou dor. Mas esse sofrimento todo não apagou o que de mais lindo havia em Piaf.

"Não, absolutamente nada
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal
Isso tudo me parece indiferente

Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Está pago, varrido, esquecido
Dane-se o passado

Com minhas lembranças,
Eu alimentei o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Eu não preciso mais deles

Varridos os amores
Junto a seus aborrecimentos
Varridos para sempre
Vou recomeçar do zero

Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, tudo me parece igual

Não, de jeito nenhum
Não, não me arrependo de nada
Pois minha vida
Pois minhas alegrias
Hoje
Isso tudo começa com você"
(Tradução de Non, Je ne Regrette Rien, imortalizada por Edith Piaf)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Não peça ajuda aos universitários

Por que, num centro universitário, é preciso colocar um cartaz no banheiro com os seguintes dizeres: "Favor dar a descarga após usar o vaso sanitário". E por que a maioria dos usuários do tal recinto, depois de secar as mãos ou limpar a bunda, não joga o papel dentro da lixeira?

Gente estudada, de bom nível social.
É de pensar no assunto.

Heroína




Não são muitas pessoas que podem se orgulhar de ter salvo vidas sem ser bombeiro, policial, médico e até veterinário. Pois a Bruna Porciúncula, que é jornalista, tem isso no currículo. Já tinha adotado a Lídia. Mais recentemente, pegou uma ninhada de quatro ou cinco cães que tinham sido abandonados por alguém de maldade extrema. Os bichinhos eram recém-nascidos e ainda nem abriam os olhos...

Pois a Bruna não se fez de rogada e perdeu várias noites de sono para salvar essa gurizadinha. Alguns não sobreviveram e, de noite, vão puxar o pé de quem os abandonou, tomara. Mas um casalzinho está são e salvo. E os dois filhotes são lindos, como dá prá ver nas fotos acima. Parabéns, Bruna, você nos faz ter esperança na raça humana.

As origens 2

Entre 1984 e 1986, o Correio do Povo ficou fechado. Antes disso, o Breno Caldas tinha torrado uma grana na TV Guaíba. Depois de um tempo, não teve como segurar o rojão. Apesar de não ter o hábito de olhar o velho Correio na infância, fiquei sentido. Porque não via mais os caminhões passando carregados de bobinas de papel ou de jornais empacotados. Enxergava tudo isso da porta da loja de vinhos e bebidas da família na Getúlio Vargas, em Porto Alegre. A uma quadra dali, ficavam as oficinas do Correio do Povo. O prédio administrativo foi preservado e restaurado pelo Zaffari, mas o megagalpão onde o jornal era impresso virou hoje um hipermercado dessa empresa.
A volta do Correio, já nas mãos da família Ribeiro, foi marcada por uma campanha maciça, em que a assinatura era de graça. Então, muita gente, mas muita gente mesmo assinava o tablóide repleto de notícias resumidas. Inclusive eu.
Naquela época, saía pela manhã para ir à aula. E cruzava a pé todo o bairro Menino Deus para chegar até a Azenha. No caminho, as casas eram sem grades, os prédios de portas abertas e sem interfone. Cenário propício para uma travessura: eu e um vizinho, que estudava na mesma escola mas numa série abaixo, íamos arrecadando quase todos os Correios pelo caminho. Depois, chegávamos na aula e os distribuíamos para os colegas. Tudo bem que o jornal era de graça, mas hoje não vejo muito sentido em tudo isso. Mesmo fazendo parte do mundo do crime, dá pra dizer que foi meu primeiro emprego no jornalismo...

Hoje, o jornal é da Igreja Universal do Reino de Deus. Triste. Mas antes isso do que fechar, botar gente na rua e deixar de fazer parte da concorrência.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

As origens

Quando era bem piá, lá pelos 5/6 anos, ainda não sabia ler, mas o jornal já me causava algum interesse. Hoje, fazendo uma retrospectiva, lembro que a "culpa" foi do meu avô, Luiz Alberto Martins Fagundes, que faleceu quando eu tinha uns 10.
Eu ainda morava em São Paulo, terra em que nasci por força das circunstância. Eu e meu irmão somos os únicos da família inteira que nasceram lá, por causa do trabalho do pai. Voltando ao jornal... Meu vô e minha vó costumavam sair de Porto Alegre e ir à capital paulista, via ônibus da Penha, para visitar.
Nesse contexto todo, há lembranças peculiares. Primeiro, que lá em casa o jornal escolhido era O Estado de S.Paulo. Outra: o Estadão costumava colocar a cidade de origem de suas notícias de uma forma destacada, no início de cada texto.
Apesar da tenra idade, eu já identificava algumas palavras, graças ao hábito de olhar as revistinhas da Disney, muitas delas herdadas do meu irmão. Uma das expressões que sabia identificar bem era "Porto Alegre". Quando meu avô estava em São Paulo, eu costumava folhear o jornal de cabo a rabo, sempre procurando por notícias da cidade em que ele morava. Quando achava um "Porto Alegre", ia correndo mostrar pro vô.
Mais tarde, fui morar na cidade que aparecia no meu cabeçalho favorito do Estadão. O primeiro ano e meio foi na casa dos meus avós, no bairro Partenon. Era entre 1981 e 1982. Todas as manhãs, eu ia até a "quitanda" do Nérso, numa das esquinas da João do Rio. Com 50 centavos dados pelo meu avô, comprava uma Zero Hora. Os quadrinhos continuavam no top da preferência, mas eu também tinha uma atração pela Polícia e pelo Esporte. Claro que só pegava o jornal pra ler depois que meu avô fizesse a leitura dele, durante o café da manhã.

Não sei se isso tem alguma relação com o que eu me tornei. Mas a lembrança vale, porque estimula. Imagina se tem por aí algum piá fazendo o que eu fazia? Que tenha uma ligação afetiva com esse maço de papel...
Tá, tô numa fase bem sentimental com o jornalismo, eu sei. Provavelmente porque agora, fora da redação, posso discuti-lo enquanto conceito. E, para isso, busco no passado muitas lições. Assim, enxergo de forma mais lúcida o futuro.



Falado em resgate, vale dar uma olhada na fase nostálgica do Cacto.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Histórias do jornalismo II

Terça-feira, 23 de janeiro de 2001. Era mais um dia na minha vida de frila não-formado na Geral da Zero Hora (o milagre do diploma só ocorreria no final de 2003). Fazia tarefas importantes, mas nada emocionantes: notinhas para serviço e para o Informe do Ensino e o obituário (aprendi um monte com ele, não riam).
Enfim, o início da noite chegou com uma chuva daquelas sobre a capital gaúcha. O telefone não parava de tocar. Alagamento aqui, engarrafamento lá, e muita reclamação. Daqui a pouco, chega a notícia de que havia uma lotação presa no meio de um metro e meio de água, sob a passarela do Parque Moinhos de Vento, o Parcão, na Avenida Goethe.
Para quem não conhece, um parêntese: era histórico que aquele local algava em dias de muita chuva. Fazia parte da cultura porto-alegrense.
O mais inusitado daquela noite não era a lotação. No mesmo cenário, havia um jet ski (!) dando umas voltinhas. A essa altura, não havia repórter para ir até lá. O fotógrafo Mário Brasil já estava no local. Quem? Quem? Quem poderá ajudar?
Nem pensei duas vezes quando me pediram pra ir. Com aquela confusão pela cidade, o jeito foi pegar um táxi, pois não havia mais "viaturas" no jornal. Depois de enfrentar um engarrafamento-monstro na Avenida Ipiranga e ficar aflito por achar que perderia a história, cheguei até o lago na Goethe. A lotação estava lá. O jet ski, também. O fotógrafo estava com tronco dentro d'água. O equipamento era segurado acima da cabeça.
Bom, se eu quisesse contar mesmo aquela história, tinha de encarar. Pior que, dias antes, um colega repórter havia sido internado para tratar de hemorróidas (argh!). Depois de ter trabalhado numa enchente... Pensei: o que é uma dor no rabo perto de uma grande história? Azar, fui.
Fiquei até com medo de me afogar, pois não sou um modelo de altura. No meio daquela água podre, fui me deslocando até a lotação. Ali pela volta, o empresário Milton Chies fazia acrobacias com seu jet ski.
Encharcado e fedendo, entrei na lotação. Falei com o motorista e os dois passageiros. No fundo, todos curtiam a "aventura". Mas o mais animado era o dono do jet ski. Ele morava ali perto e resolveu pegar seu brinquedinho só para se divertir.
- Em outras enxurradas, já pensei em fazer isso. Desta vez, não resisti - disse, na época, para este repórter.
O bon vivant acabou virando um herói involuntário: tirou os dois passageiros da lotação. O motorista ficou no veículo, como um bom capitão que não abandona seu barco.
E eu recebi de brinde uma baita matéria. O fotógrafo, uma foto na capa da segunda edição. Naquele dia, senti o prazer inestimável de contar uma boa história. Me ralei, mas não tive hemorróidas nem leptospirose...


Em 2005, uma matéria no jornal porto-alegrense tinha o título "Jet ski na Goethe, nunca mais". No mês passado, logo depois da inauguração do conduto Álvaro Chaves-Goethe, que promete resolver o problema histórico dos alagamentos naquela avenida, um vereador falou mais ou menos a mesma coisa em um discurso na Câmara da Capital. Se tem gente que não esquece daquela cena, imagina eu.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Histórias do jornalismo I

Nem sempre dá para se orgulhar do que se faz no jornalismo. Aliás, tem coisas que dá para se envergonhar, e muito.
O ano era 2000. O mês, dezembro. Quase no Natal, o IBGE divulgou dados preliminares sobre o censo daquele ano. Em um jornal de grande circulação, a pauta especial era falar sobre a proporção entre homens e mulheres. Uma "força-tarefa" estava encarregada do assunto. Do interior, uma correspondente escreveria sobre a pequena Guabiju, na Serra, que tinha 1.745 habitantes - 873 mulheres e 872 homens, pau a pau, ou melhor, pau a... Ah, deixa pra lá.
Uma dupla repórter-fotógrafo ficou encarregada de ir para a rua e catar uma boa foto que retratasse a maior proporção feminina-masculina do Estado, que ocorria em Porto Alegre. A imagem saiu do Parque Moinhos de Vento, o Parcão.
Outra frente se abriu, rumo a Charqueadas, na Região Metropolitana. O repórter iniciante e o fotógrafo experiente foram até a cidade para tentar descobrir um motivo para os números que davam conta de 2.382 homens a mais do que mulheres, a maior proporção desse gênero no Rio Grande do Sul. A gincana: reunir o maior número de pessoas do sexo masculino em uma foto.
Pois lá se foram os otários, que não precisaram mais do que 5 minutos para descobrir que Charqueadas tinha 4 presídios que abrigavam 3 mil detentos homens. Ou seja, eles estavam na cidade e contavam no censo, mas não saíam andando pelas ruas...
Primeiro, eles foram para a praça principal. Ué, cadê os homens? Quase todos trancados... Os pobres jornalistas bem que ligaram para a redação e avisaram o editor do absurdo que estava rolando. Do outro lado da linha, pura compreensão:
- Não interessa. Voltem com a foto.
Depois de tentar arrecadar homens no Centro e ouvir alguns xingamentos, eles colocaram a cabeça prá pensar. Hmmm, quem sabe a cidade tem um quartel? Não tinha. O mais próximo disso era um alojamento da Brigada Militar, na saída de Charqueadas.
Ao chegar lá, um pouco de esperança. Um tenente ouviu o drama, exposto de forma sincera, e topou o desafio. Com voz de comando, mandou que todos os policiais do prédio descessem. Detalhe: à paisana. Senão a farsa ficaria muito descarada.
A coisa melhorou significativamente. Já havia cerca de 10 homens para uma foto. Por sorte, ali perto, três piás jogavam bola. Juntaram-se ao grupo. Mais dois rapazes passavam a cavalo. Entraram no quadro também. Mais um a pé e mais um de bicicleta. Pronto, passou dos 15 e quase chegou a 20. O fotógrafo, que não era bobo, fez uma imagem mais fechada. Parecia uma multidão.
O repórter, depois de entrevistar uns 20 homens e não chegar a lugar algum, consegue, finalmente, uma declaração que editor adora:
- Bah, aqui nos bailes a gente chega a se tapear por mulher.
Missão cumprida, vergonha completa. E um baita aprendizado de como não se deve fazer.