Em um sábado à noite, saio perturbado da sessão de Ensaio sobre a Cegueira. Estou na Cidade Baixa, em Porto Alegre, e começo a observar alguns detalhes que não enxergava mais. Na Rua Lima e Silva, um guardador de carro pergunta se eu, assim como ele, achava que um carro estacionado estava com os faróis acessos. Respondo que sim e ainda emito a opinião de que o dono do veículo iria ter problemas para dar partida. Sigo meu caminho e percebo que, antes do filme, talvez aquele guardador estivesse invisível. Logo depois, quase sou atropelado por um veículo que dobra na Rua da República. Ele não havia dado o sinal da conversão, e eu, não o vi. Cegueira momentânea?
Segui pensando na visão que temos do mundo. O diretor Fernando Meirelles tem a sua, apresentada em Ensaio sobre a Cegueira, adaptação para o cinema da obra do escritor português José Saramago. Li o livro há uns bons anos e posso dizer que o cineasta (e seus roteiristas) tiveram trabalho para filmar uma história cujos espaço e tempo são indefinidos, repleta de metáforas e com personagens sem nome. O básico: uma epidemia de cegueira que atinge a humanidade. A partir da perda do sentido da visão, vem a barbárie.
Com medo do contágio, o governo decide isolar os primeiros "infectados" em uma espécie de manicômio abandonado. Lá, eles têm que se acostumar a novas regras e hierarquias. Enquanto uns propõem a igualdade de direitos e deveres, outros crêem que podem governar pela força e humilham os restantes. É interessante, tanto no livro quanto no filme, ver essa transformação do homem em um animal que só vive para saciar o apetite de seu instinto. Despojados das facilidades modernas, "os seres humanos" voltam a ser bichos, em busca das necessidades básicas, como comida, bebida e sexo.
A cegueira é branca, muito bem retratada pela fotografia do filme. É o brilho da luz que cega, é o excesso de informações desordenadas que confunde, e não deixa ver como o mundo como ele realmente é. Isso só pode dar em caos. Não é o que estamos vivendo?
Meirelles fez algumas concessões - amenizou a cena dos estupros, por exemplo -, mas não todas. E conseguiu tirar boas atuações de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Gael García Bernal, Danny Glover e Alice Braga. Com produção globalizada e filmagens não menos espalhadas (São Paulo foi uma das locações), Ensaio, com o perdão do trocadilho, faz a gente enxergar muitas coisas. Mesmo que em, algumas partes do filme, o choque de realidade nos faça fechar os olhos.
6 comentários:
já me falaram para assistir ao filme, mas em Videira isso vai ser difícil. o livro, bom, nenhum do Saramago me apeteceu ainda. talvez o faça até que o filme chegue nas locadoras, do lado de cá do país. instigante relato. bjo e saudades querido.
Oi. Encontrei o teu blog por acaso, estava procurando no google o email da minha prima (Bruna ai do diario) e cai aqui.
Putz estou tri afim de ver esse filme, mas falta tempo ou dinheiro, mais dinheiro do que tempo na verdade.
Gostei do teu post.
Um trigre, dois trigres, tres trigres... Era trigre demais sabado naquela festa legal em SM!!!
Achei que tu ia postar algumas aqui no teu blog.Eu queria ver as fotos, me acrescenta no orkut. Tentei ver la no Guerra s/ sucesso.E manda ver la no flickr tambem.
Um abraço.
Moizes Vasconcellos
onde anda? e o blog abandonado?
bj
Estamos de endereço novo, Tigrãozinho.
A saudade é a velha de sempre.
Beijos
htpp://jotapitthan.blogspot.com
oi tigre! lembra da história aquela, iniciada pelo homero, que foi passando de mão em mão (inclusive tu escreveu um capítulo)?
poisé, me deram a honra de escrever uma parte tbm. o link tá aki, caso queira ver em que pé estão as coisas (obra coletiva, né?):
http://cemmeiaspalavras.blogspot.com/2009/05/o-anao-e-o-lorao-mais-um-capitulo-da.html
abraço!
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