quinta-feira, 22 de maio de 2008

Operação: reportagem


Apenas meia hora depois de ter encerrado a jornada de trabalho na terça, já estava na estrada, rumo a Porto Alegre, acompanhado pelo motorista, o Zeca, e o fotógrafo Fernando Ramos. Eram 21h30. Até chegar na minha casa porto-alegrense, 1h. Beijos no pai e na mãe, afago no gato coisa e tal. Até conseguir dormir, 2h.

Às 4h, tocou o despertador no celular, mas não dei muita bola. Quinze minutos depois, veio o reforço.

- Ô, Luiz, tu não tinha que acordar às 4h? - disse o pai.

Foi só o tempo de tomar uma ducha e chamar um táxi. Saí no seco. O relógio marcava 4h43 quando entro no Hotel Continental, na frente da rodoviária. A equipe está no restaurante do hotel, tomando café. Fico meio preocupado, porque o encontro com os policiais civis de Santa Maria estava marcado para as 5h30, mas em Novo Hamburgo. Chegar lá é fácil, mas eu não tinha nem idéia de onde ficava a Central de Polícia. O Zeca e o Fernando, muito menos.

Não esquentei muito a cabeça, resolvi me sentar para tomar um café. Afinal, como dizia a minha avó, "saco vazio não pára em pé". Uma xícara de café, uma fatia de pão integral com manteiga e queijo, uma colherada de mel e dois pedacinhos de mamão papaya. Eu não estava hospedado, mas achei que ninguém ia complicar. Ledo engano. Antes de deixar o recinto, um funcionário do hotel veio pedir para eu "acertar o café". Tá, tudo bem, faz parte. O problema foi o preço cobrado: R$ 19 (!). A empresa vai pagar, mas é um abuso, não? Se eu soubsesse, tinha enchido os bolsos com pães e frutas...

A vida segue, e a caravana pega a estrada rumo a Novo Hamburgo. Chegamos às 5h30 na delegacia. Foi bem fácil porque ela ficava bem do lado da BR-116, que àquela hora não tinha movimento algum. O dia continuava escuro, e o Fernando Ramos já fazia suas primeiras imagens (na foto aí de cima). Um equipe da sucursal da RBS TV também pintou por lá.

Logo na saída, a primeira confusão. Achávamos que tínhamos de seguir o delegado, mas não. O quente da história estava com outra equipe. Daí foi um "pau" pra alcançar os policiais, com um pedágio no meio do caminho até Sapiranga pra complicar. No fim, deu tudo certo.

Na frente de um prédio de 11 andares no Centro de Sapiranga, os policiais se armavam e colocavam coletes à prova de bala. Parêntese: em operações como essa, de combate a sonegadores, quase nunca são disparados tiros. É diferente de casos encolvendo traficantes ou assaltantes de banco, por exemplo.

O porteiro franqueou a entrada no prédio, mas já tomou um calor dos policiais. Os agentes perguntaram se ele conhecia o suspeito que seria "visitado". Gaguejando e tremendo, o homem só se explicava, dizendo que trabalhava ali fazia apenas dois meses e não conhecia ninguém. Porteiro liberado, vamos em oito no elevador: quatro agentes, repórter e câmera da TV, eu e o Fernando. Oito num elevador! Talvez tenha sido o momento mais arriscado do dia.


Agora, o momento mais tenso foi quando os policiais começaram a tocar a campainha e bater na porta do homem-alvo. Não pelo perigo, mas pela demora. Esse tava num sono ferrado. Um dos agentes se preparava para dar um pé na porta, mas não precisou. Olha, acho que ele iria mesmo quebrar o pé, pois a espessura da porta não era pouca bosta.

Nosso suspeito atende a prova só de cueca e com a cara toda amassada. Não reage e ainda ganha o direito de se vestir antes de ser algemado. Depois, os policiais começam a dar uma vasculhada por cima, em busca de documentos. Não dá meia hora e já estamos fora do luxuoso apê.

Ciceroneados pelo repórter da TV, cuja família é de Sapiranga, fomos para outro ponto. Numa casa de dois pisos e pátio generoso. Estava sendo preso um motorista. A casa não era dele. Fomos informados pelo dono, que não estava muito feliz com a presença da imprensa. Ainda deu tempo de acompanhar mais dois suspeitos saindo algemados do mesmo prédio, em outro local.

De lá, fomos para a DP de Sapiranga, para o registro das prisões. A essa altura, a história já estava toda na cabeça. Logo voltamos para a estrada, não sem antes tomar um capuccino no posto em frente à delegacia. Destino: Zero Hora.

Dessa vez, a 116 já estava atrolhada. Era 10 e pouco quando consegui chegar na redação para começar a escrever. A única pausa foi do meio-dia à 1, para lamoçar em casa. Depois, tocamos direto. Teve até coletiva no Palácio da Polícia, em que uma repórter loira (não tenho nada contra, pra ficar bem claro) ficava brigando com o fotógrafo pelo celular, só porque ele foi parar na Polícia Federal (!?).

A alforria só veio às 6h da tarde, depois de muitos telefonemas e algumas paradas para responder a dúvidas dos coleguinhas que iriam usar meu material. Fazendo as contas, eu já estava há 13 horas trabalhando. Mas feliz.

3 comentários:

Casal Gi e Nico disse...

Ufa! Deu para ficar exausta lendo, imagina quem passou. Li a matéria no site do Zero. Não tem a mesma emoção como essa do blog :), mas com certeza é boa informação. Valeu a correria!

Cor de Rosa e Carvão disse...

que massa. pena não ter balançado o elevador, arrebentado um cabinho, para dar um pouco mais de emoção. claro, sem as "vias de fato" ocorrerem. vou ver se acho a matéria. bjo e saudades. e sim, esqueci de ligar...

Fani disse...

Por isso que eu digo que a editoria de polícia é a maissss legal!