terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Simplesmente o bem




Era gente para todo o lado em frente ao Centro Social Marista Tia Jussara, na Ilha Grande dos Marinheiros. Passava das 11 da manhã da véspera de Natal. Esse canto de terra que abriga 3 mil habitantes fica ainda dentro de Porto Alegre, passando a Ponte do Guaíba. Pois nesse dia os eternos marginalizados viraram protagonistas numa ação solidária que completa 10 anos em 2007: a distribuição de brinquedos a quase 2 mil crianças que, provavelmente, não iriam receber nada do Papai Noel.
O criador da iniciativa, Alexandre Bonatto, o Xande, récem havia descido de "uma camioneta de som" que chegou em carreata até a ilha. Ao lado dele, um Papai Noel da família: um de seus irmãos, Marcos. Ao fundo, músicas natalinas. O caminhão com brinquedos, roupas, refrigerantes e livros (para a criação de uma biblioteca) encosta de ré no portão do Centro Marista para ser descarregado. Abrem-se o portão e a parte de trás do baú. Um batalhão de voluntários surge para carregar todos esses elementos de uma grande festa.
Há 10 anos, Alexandre resolveu criar uma campanha na sua videolocadora, a Vídeo Tchê, no bairro Menino Deus. Ele trocava brinquedos por locações. Em quase clima de aventura, ele juntou centenas de doações e fez a alegria de pouco mais de 300 crianças. Hoje são mais de 2 mil. E tem mais. Do improviso do primeiro ano, não restou nada. Hoje, há voluntários, comunidade no Orkut, cadastro de crianças, entrega de senhas, sorteio de prêmios especiais para os que têm as melhores notas no boletim, som para dar o clima, brigadianos para dar segurança e muito mais. E, ainda por cima, esse dia solidário já agregou também moradores das ilhas do Pavão e das Flores.
Foi um dia inesquecível. Apesar do sol de rachar e da fila interminável de mães e filhos esperando pelos brinquedos, foi lindo de se ver. Muita criança saiu fazendo festa. E todos aqules que ajudaram saíram recompensados por tentar amenizar um pouco as injustiças do mundo.
Nosso herói, o Xande, tinha como obsessão não deixar sobrar nenhum brinquedo. E não descansou enquanto isso não aconteceu. Com os amigos, ainda foi à Ilha da Pintada e à Vila dos Comerciários. Na finaleira, até alguns itens avulsos que estavam no carro foram para as mãos dos desafortunados que pedem nas sinaleiras.
Para quem conhece o cara, sabe que ele não espera ganhar nada em troca de um trabalho intenso de dois meses que é pensado o ano inteiro. Ou melhor, ele até espera algo, sim: a satisfação de gente que, muitas vezes, não tem nada para comer ou para vestir. Gente que vê o Natal como mais um motivo para ser humilhada na vida, pois no seu lar modesto o Papai Noel não dá as caras. Gente sem esgoto e com água, água da cheia do Guaíba, companheira pelo menos um vez por ano. Pelo menos em um dia do ano, todas essas pessoas sofridas são consideradas os seres mais importantes do mundo.
E se cada um de nós fizesse algo assim?


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Deixo aqui algumas das fotos que tirei desse dia inesquecível. Para quem havia ido no primeiro ano e se emocionado, imagina agora. Nunca mais vou esquecer dos sorrisos que vi nos rostos de crianças que vêem, na ação do amigo Xande, um dos momentos mais felizes do ano.








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