Recebo a notícia de que um supermercado Zaffari vai
inaugurar onde funcionou durante anos o Cine Cacique, na Rua dos Andradas, no
Centro de Porto Alegre. Longe de abominar o capitalismo ou algo do tipo, só
tenho lembranças boas dos cinemas de rua.
A primeira lembrança de uma ida ao cinema remete a “Superman
- O Filme”, ainda em São Paulo. Fui
levado pelo meu irmão e quis sair antes do final da sessão. OK, a primeira vez
não foi lá essas coisas, mas plantou uma semente.
Já em
Porto Alegre, o hábito de ir ao cinema se tornou mais
constante. Morava no bairro Menino Deus, que tinha o seu cinema: o Marrocos, no
final da Avenida Getúlio Vargas (depois virou estacionamento e pizzaria). Pela
proximidade, era só trocar o filme, e lá eu estava.
Outro cinema muito frequentado por mim era o Roma, na
Azenha. Perto de onde vários colegas de 1º Grau (atual Ensino Fundamental)
moravam, era um destino constante na tarde de domingo. Até porque era bem mais
barato que as outras salas.
No Roma, funcionava assim: depois de uma ou duas semanas em
cartaz nos principais cinemas, os blockbusters entravam em cartaz no Roma, a um
preço bem mais baixo. Como era fácil de chegar, eu aproveitava. Naquela época,
pouco ligava para a qualidade das salas. O que importava para mim era assistir
o filme. E só. O Roma, por exemplo, era um “pardiero”. E eu estava sempre lá.
Os cinemas “top” eram no Centro. Tinha o Victoria, com
longas filas que começavam na porta do cinema, na esquina da Borges de Medeiros
com a Andrade Neves e terminavam só na Rua da Praia (especialmente quando eram
exibidos os longas dos Trapalhões). Até hoje, os Victoria 1 e 2 estão numa
galeria, pertinho do endereço de outrora, bem menores do que antes.
O Imperial (que depois foi dividido e teve seu mezanino
transformado no Guarany), na Praça da Alfândega, também era um dos que exibiam
os grandes lançamentos.
Outro “grandão” do Centro era o Cacique, que muitas vezes tinha
sessões lotadas para seus mais de 1,5 mil lugares. Tinha até direito a pinturas
do Glauco Rodrigues. Um luxo. É esse lugar que agora vai ser um Zaffari. Na década
de 80, depois do fechamento, um incêndio atingiu o Cacique e o Scala (que
funcionava no mezanino), detonando o que lá restava, incluindo as pinturas do
Glauco. Me lembro que lá ainda funcionou um estacionamento. Também pudera, era
um latifúndio de cinema.
É difícil eu não ter ido a algum cinema naquela época, Até
porque era aficionado. Se tinha algum filme passando que quisesse ver, dava um
jeito de chegar, mesmo que fosse na Protásio Alves; na 24 de Outubro, na
Independência ou na Assis Brasil.
Não posso deixar de falar do Bristol, que era na Osvaldo
Aranha, no Bairro Bom Fim, ao lado do enorme Baltimore. Foi lá que, digamos, eu
tive minha graduação em “educação cinematográfica”. Funcionava assim: durante
uma semana, a sala tinha um ciclo de filmes, dentro de uma temática que podia
envolver temas ou cineastas específicos. Uma semana de “Guerra nas
Estrelas” (os três primeiros da série) ou de Akira Kurosawa, por exemplo. Para
uma criança/adolescente muito interessada, era o ápice. Ah, as sessões da
meia-noite do ABC (na Venâncio Aires) também eram memoráveis.
Aos poucos, pude testemunhar as grandes salas sendo
fatiadas, virando 1, 2, 3 e até 4, como no Baltimore. Depois, foram sendo fechadas.
E os cinemas em shoppings foram tomando conta.do campinho.
Tenho saudade dos cinemas de rua, mas não lamento por
completo. É uma evolução: cadeiras mais confortáveis, limpeza, banheiros
decentes, estacionamento, segurança e outras mil facilidades que um centro de
compras oferece. Só resta lembrar de uma época boa.