sábado, 5 de abril de 2008

A bela dor de Piaf


Marion Cotillard. Não a conhecia e não vou esquecê-la tão cedo. Vencedora do Oscar de melhor atriz pelo papel-título de Piaf – Um Hino ao Amor, essa francesa opera uma transformação física radical no filme. De uma jovem faminta e desbocada ela vai até a mulher enrugada e frágil que, no final da carreira, mal conseguia ficar de pé sozinha. Irretocável na expressão corporal e na dublagem de canções, ela chega para arrasar na última cena, na qual Piaf dá seus últimos suspiros artísticos na interpretação de Non, Je Ne Regrette Rien (Não, Não Me Arrependo de Nada), uma das últimas canções que gravou.
Em tempos tomados pela insensibilidade, o filme-biografia mostra o quanto a dor pode ser bela e nos ensinar a viver o amor e a se revoltar. Depois de uma vida nada comum, a cantora francesa morreu em 1963, aos 47 anos, com a aparência de quem tinha muito mais do que essa idade, em razão de reumatismo, muita morfina e doses cavalares de infelicidade.
Dá para ficar refletindo horas a respeito. No caso de Piaf, que foi abandonada pela mãe, chegou a viver no bordel da avó e quase ficou sem poder enxergar com seus belos olhos azuis, o talento extraordinário foi uma espécie de destino. Pode não ter anulado os outros destinos traçados para ela, mas foi forte o suficiente para guerrear com eles e superá-los. Sobrou dor. Mas esse sofrimento todo não apagou o que de mais lindo havia em Piaf.

"Não, absolutamente nada
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal
Isso tudo me parece indiferente

Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Está pago, varrido, esquecido
Dane-se o passado

Com minhas lembranças,
Eu alimentei o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Eu não preciso mais deles

Varridos os amores
Junto a seus aborrecimentos
Varridos para sempre
Vou recomeçar do zero

Não, de jeito nenhum
Não, eu não me arrependo de nada
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, tudo me parece igual

Não, de jeito nenhum
Não, não me arrependo de nada
Pois minha vida
Pois minhas alegrias
Hoje
Isso tudo começa com você"
(Tradução de Non, Je ne Regrette Rien, imortalizada por Edith Piaf)

3 comentários:

TatiPy disse...

Amém!

Anônimo disse...

o filme é assustadoramente bem feito... o mais interessante é que revela a piaf de uma maneira menos idealizada e preservada. muita gente diz que gosta de música francesa, citam piaf, suas canções e tal... me lembro que quando eu estudava na aliança francesa tinha umas dondoquinhas de colegas. era só falar em piaf que os olhinhos borrados de maquiagem brilhavam... e vinham suspiros. eu tinha um colega bem sacana. ambos gostavam, e muito, da piaf, mas nossa maior diversão nas aulas era avacalhar com a idealização exagerada em torno dos mitos franceses. piaf? a, aquela cantora que gostava de um traguinho e fazer barraco? e por aí ia... era hilário ver as damas porto-alegrenses incomodadas... mas não tenham dúvidas que adoro piaf, ainda mais porque ele era barraqueira, bebia e consumia o que queria e ficava com quem queria.

Cor de Rosa e Carvão disse...

he he he. o Vitor arrepiava nas aulas de française... bom, menos mal que nos meus tempos de alliance française não tinha dondocas. ufa! não aguentaria.

eu, como sempre, perdi o filminho na telona quando estive em Porto há tempos atrás. mas ele vai para a minha listinha de DVDs. só n sei quando... sabe cumé né, eu tô desse lado agora, he he.

Tiger, estive lá lendo as tuas colunas. bem massa! minha preferida até agora é a do dia 28 de março. vou até esperar chegar a minha olimpus, do 'exterior' para começar a fazer os cliques nas ruas e postar lá na minha; dar uma mudadinha no visú dela.

bjo mon cher. tô com saudadezinha. ah, em tempo, linda essa música.