Terça-feira, 23 de janeiro de 2001. Era mais um dia na minha vida de frila não-formado na Geral da Zero Hora (o milagre do diploma só ocorreria no final de 2003). Fazia tarefas importantes, mas nada emocionantes: notinhas para serviço e para o Informe do Ensino e o obituário (aprendi um monte com ele, não riam).
Enfim, o início da noite chegou com uma chuva daquelas sobre a capital gaúcha. O telefone não parava de tocar. Alagamento aqui, engarrafamento lá, e muita reclamação. Daqui a pouco, chega a notícia de que havia uma lotação presa no meio de um metro e meio de água, sob a passarela do Parque Moinhos de Vento, o Parcão, na Avenida Goethe.
Para quem não conhece, um parêntese: era histórico que aquele local algava em dias de muita chuva. Fazia parte da cultura porto-alegrense.
O mais inusitado daquela noite não era a lotação. No mesmo cenário, havia um jet ski (!) dando umas voltinhas. A essa altura, não havia repórter para ir até lá. O fotógrafo Mário Brasil já estava no local. Quem? Quem? Quem poderá ajudar?
Nem pensei duas vezes quando me pediram pra ir. Com aquela confusão pela cidade, o jeito foi pegar um táxi, pois não havia mais "viaturas" no jornal. Depois de enfrentar um engarrafamento-monstro na Avenida Ipiranga e ficar aflito por achar que perderia a história, cheguei até o lago na Goethe. A lotação estava lá. O jet ski, também. O fotógrafo estava com tronco dentro d'água. O equipamento era segurado acima da cabeça.
Bom, se eu quisesse contar mesmo aquela história, tinha de encarar. Pior que, dias antes, um colega repórter havia sido internado para tratar de hemorróidas (argh!). Depois de ter trabalhado numa enchente... Pensei: o que é uma dor no rabo perto de uma grande história? Azar, fui.
Fiquei até com medo de me afogar, pois não sou um modelo de altura. No meio daquela água podre, fui me deslocando até a lotação. Ali pela volta, o empresário Milton Chies fazia acrobacias com seu jet ski.
Encharcado e fedendo, entrei na lotação. Falei com o motorista e os dois passageiros. No fundo, todos curtiam a "aventura". Mas o mais animado era o dono do jet ski. Ele morava ali perto e resolveu pegar seu brinquedinho só para se divertir.
- Em outras enxurradas, já pensei em fazer isso. Desta vez, não resisti - disse, na época, para este repórter.
O bon vivant acabou virando um herói involuntário: tirou os dois passageiros da lotação. O motorista ficou no veículo, como um bom capitão que não abandona seu barco.
E eu recebi de brinde uma baita matéria. O fotógrafo, uma foto na capa da segunda edição. Naquele dia, senti o prazer inestimável de contar uma boa história. Me ralei, mas não tive hemorróidas nem leptospirose...
Em 2005, uma matéria no jornal porto-alegrense Já tinha o título "Jet ski na Goethe, nunca mais". No mês passado, logo depois da inauguração do conduto Álvaro Chaves-Goethe, que promete resolver o problema histórico dos alagamentos naquela avenida, um vereador falou mais ou menos a mesma coisa em um discurso na Câmara da Capital. Se tem gente que não esquece daquela cena, imagina eu.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
bela história. na real, só quero registrar que tenho internet em casa e que ainda não fui dormir. talvez não vá tão cedo. ah, e provavelmente eu crie um blog. mas não hoje, acho. tô ocupado baixando coisas, vendo 15 janelas diferentes no youtube e ouvindo roxette no rádio. acredite, é verdade.
tigre mostrando seu talento gigante desde os tempos de freela
mas esse coment do homero é o máximo...o guri tá emocionado! feliz dele que não tem a internet podre da net que eu tenho.
tigre, não sabia que era tu o cara desta história...
a história é boa, mas o cara do jet-ski, bem, esse eu sempre achei um imbecil... hehehe
ola...nao vi isto, tinha a recem vindo morar em porto alegre, onde encontro esta foto? abraço
encontrei a foto. nao tem a noticia do dia do ocorrido, mas sim do furto do jet ski, 2 meses depois, com a foto...tiraram o brinquedo do home!
http://www.clicrbs.com.br/busca/rs/noticias/45345
Postar um comentário