terça-feira, 1 de abril de 2008

Histórias do jornalismo I

Nem sempre dá para se orgulhar do que se faz no jornalismo. Aliás, tem coisas que dá para se envergonhar, e muito.
O ano era 2000. O mês, dezembro. Quase no Natal, o IBGE divulgou dados preliminares sobre o censo daquele ano. Em um jornal de grande circulação, a pauta especial era falar sobre a proporção entre homens e mulheres. Uma "força-tarefa" estava encarregada do assunto. Do interior, uma correspondente escreveria sobre a pequena Guabiju, na Serra, que tinha 1.745 habitantes - 873 mulheres e 872 homens, pau a pau, ou melhor, pau a... Ah, deixa pra lá.
Uma dupla repórter-fotógrafo ficou encarregada de ir para a rua e catar uma boa foto que retratasse a maior proporção feminina-masculina do Estado, que ocorria em Porto Alegre. A imagem saiu do Parque Moinhos de Vento, o Parcão.
Outra frente se abriu, rumo a Charqueadas, na Região Metropolitana. O repórter iniciante e o fotógrafo experiente foram até a cidade para tentar descobrir um motivo para os números que davam conta de 2.382 homens a mais do que mulheres, a maior proporção desse gênero no Rio Grande do Sul. A gincana: reunir o maior número de pessoas do sexo masculino em uma foto.
Pois lá se foram os otários, que não precisaram mais do que 5 minutos para descobrir que Charqueadas tinha 4 presídios que abrigavam 3 mil detentos homens. Ou seja, eles estavam na cidade e contavam no censo, mas não saíam andando pelas ruas...
Primeiro, eles foram para a praça principal. Ué, cadê os homens? Quase todos trancados... Os pobres jornalistas bem que ligaram para a redação e avisaram o editor do absurdo que estava rolando. Do outro lado da linha, pura compreensão:
- Não interessa. Voltem com a foto.
Depois de tentar arrecadar homens no Centro e ouvir alguns xingamentos, eles colocaram a cabeça prá pensar. Hmmm, quem sabe a cidade tem um quartel? Não tinha. O mais próximo disso era um alojamento da Brigada Militar, na saída de Charqueadas.
Ao chegar lá, um pouco de esperança. Um tenente ouviu o drama, exposto de forma sincera, e topou o desafio. Com voz de comando, mandou que todos os policiais do prédio descessem. Detalhe: à paisana. Senão a farsa ficaria muito descarada.
A coisa melhorou significativamente. Já havia cerca de 10 homens para uma foto. Por sorte, ali perto, três piás jogavam bola. Juntaram-se ao grupo. Mais dois rapazes passavam a cavalo. Entraram no quadro também. Mais um a pé e mais um de bicicleta. Pronto, passou dos 15 e quase chegou a 20. O fotógrafo, que não era bobo, fez uma imagem mais fechada. Parecia uma multidão.
O repórter, depois de entrevistar uns 20 homens e não chegar a lugar algum, consegue, finalmente, uma declaração que editor adora:
- Bah, aqui nos bailes a gente chega a se tapear por mulher.
Missão cumprida, vergonha completa. E um baita aprendizado de como não se deve fazer.

6 comentários:

TatiPy disse...

Puta que pariu!

Anônimo disse...

hahahahahahhahahhahahaha
mto engraçado!

belo exemplo de como não fazer, mas uma bela prova de como não desistir quando a gente não pode derrubar a pauta nem a pau

TatiPy disse...

Óia!
Tem gringo vindo lançar vírus aqui...

Tigerman disse...

Fuck you Barb!

Cor de Rosa e Carvão disse...

'Ossos do ofício', he he he.

Anônimo disse...

putz... uma vez fui cobrir o lançamento de um projeto ecológico para estudantes do vale do sinos. fomos na beira do rio, e os alunos estavam espalhadaos. aí o fotógrafo da zh subiu num caminhão e disse, aos berros: "gurizada, vamos juntar aqui pra fazer a foto da capa da zero hora de amanhã..."
é por isso que eu faço parte daquela comunidade no orkut sobre "sentir vergonha pelos outros..."