segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Nenhum país para homens de idade


O título acima é uma tradução mais fidedigna para No Country for Old Men, novo filme do irmãos Joel e Ethan Coen (de Fargo), que está bem cotado para levar alguns Oscar. Mas os marqueteiros da distribuidora brasileira resolveram chamá-lo de Onde os Fracos Não Têm Vez, como se ele fosse um faroeste, quando, na verdade, é uma negação desse gênero.

O cenário até pode ser semelhante: grandes planícies, desertos, cidades na fronteira com o México. Mas paramos por aí. A história é centrada em três personagens que praticamente não se encontram. E que não se encaixam na sociedade americana do início dos anos 80.

O xerife Bell (Tommy Lee Jones, em piloto automático), por exemplo, é muito mais reflexão do que ação. Veterano no cargo e seguindo uma linhagem familiar de homens da lei, ele procura razões para a violência de seus dias atuais e usa a ironia para espelhar um momento do país:

- Eles não gostam de comida mexicana - responde o xerife, ao ser perguntado por seu assistente sobre o porquê de os coiotes não terem aparecido para devorar os cadáveres de traficantes mortos depois de uma troca de tiros, no meio do deserto.

O "mocinho" do filme, se é que podemos chamá-lo assim, é o soldador aposentado Llewelyn Moss (Josh Brolin, de grande atuação), que vive num trailer com a mulher e tem a caça como passatempo. Pois é numa dessas idas ao deserto, de espingarda na mão, que ele desencadeia a ação que move o filme. Sem tomar conhecimento do bando de traficantes mortos na planície, ele pega uma mala com 2 milhões de dólares. Fibra moral? Zero.

No encalço dele (a mala tem um aparelho de rastreamento), está Anton Chigurh (Javier Bardem, de cabelo-tigela-Channel, a melhor coisa do filme), que age como um psicopata, matando a granel. É ele o responsável pelo rastro de sangue mostrado na história e por algumas das cenas mais violentas que o cinema já viu.

Junte esses três outsiders e acabe com o sonho americano. Junte os irmãos Coen e você tem um filme mostrando que, na verdade, os fracos tomaram conta dos Estados Unidos. Fotografia de primeira (preste atenção nos planos, vale a pena), roteiro bem conduzido (é a primeira adaptação da carreira dos irmãos) e atuação antológica de Javier Bardem. Nem precisa levar algum dos 8 Oscar a que está indicado.

2 comentários:

Lo disse...

Depois de tanto tempo, se começa por onde?
oi?!

te achei pelo blog da Adri. Adorei.

Vou começar assim: adorei o título do blog.

bjo

XXX disse...

Excelente comentário, excelentes observações.
Mas, quem diria eles ganharam mesmo o Oscar e o que dizer sobre isso?!?