quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Ser chinelo


Tenho meu lado chinelão. Não no sentido pejorativo. Não costumo ser grosseiro, não faço falcatruas por aí, não assalto nem fico arrotando na hora do almoço.
O fato é que me adapto às diversas situações, por piores que sejam. E não tenho medo das "roubadas", afinal, trato todo mundo de igual para igual. Quem sou eu pra ter preconceito?
Tem a ver com minha criação. Desde pequeno (tá bom, não cresci muito), meus pais sempre me deixaram fazer o que quisesse, sem encher o saco. Quando abusei da confiança, fiquei de castigo. Como na vez em que, depois da formatura da 8ª série, tomei um porre de cerveja. Um porre é modo de dizer, porque, se lembro bem, acho que foram uns dois copos. Resumo da ópera: meu pai foi me encontrar em algum lugar do bairro, meio sem rumo. Aquele dia eu não apanhei por pouco.
Outra vez fui dar uma de esperto e cometi um pequeno delito. Invadi (pulei uma cerquinha de madeira) uma escola municipal perto de casa. Tentei furtar giz de uma sala de aula. A janela estava quebrada e, na hora de enfiar o braço, cortei embaixo do sovaco. Como se não bastasse, na saída, um cachorro me mordeu. Foi ali que aprendi que o crime não compensa.
Mas, voltando à chinelagem... Ainda na minha infância, morei um tempo na casa da vó, no bairro Partenon. Fica bem do lado da Vila Maria da Conceição, de onde tive vários parceiros. Nunca fui rico, mas também não servia pra miserável. Naquela época, eu já aprendi bem a conviver com as diferenças, a dividir o que sem tem, a saber a "língua" de cada lugar, de cada ambiente.
Hoje, em determinadas reportagens que vou fazer, uso isso a meu favor. Se precisar, falo "e pá e pum, dusmeu" sem soar falso. Ainda no quesito "sou chinelo": gosto de andar de ônibus ou a pé, vou a futebol na parte mais fuleira do estádio, adoro uma pauta "nas bocada", prefiro os bares mais vagabundos, não sambo mas aplaudo e gosto de mulher que bebe.
E não é que ser chinelo me fez até tomar um atraque da polícia esses dias? Foi em Florianópolis. Estava indo de bus para o Centro e tive de descer, botar a mão na parede, abrir as pernas e ser "examinado" por um policial militar. Eu não passava por uma revista fazia um tempo. Das outras vezes, também foi chinelagem: quando eu bebia cerveja e comia amendoim na Osvaldo Aranha, em Porto Alegre; e quando eu voltava do "som do domingo" do Glória Tênis Clube, no Partenon. Engraçado é que nunca tomei atraque quando morei no Menino Deus. Será que é porque é um bairro "classe média-alta"? Que dúvida...

Todo esse papo é pra dizer que amanhã é dia de chinelagem da boa. Interzinho e Zequinha, na Baixada, oito e meia da noite. Eu e o Maurício (dono do blog que tem um link aí do lado) vamu tomar cerveja Colênia, xingar o juiz, o bandeirinha e os jogadores, subir no alambrado e voltar pra casa chutando lata. Se sobrar tempo, vale dar uma acompanhada no jogo, ouvindo o meu radinho que só está funcionado por causa de um band-aid salvador.

P.S.: uma das chinelagens mais sensacionais que escutei foi a de uma pessoinha que pediu dinheiro emprestado pro dono de um bar para beber em outro bar, já que aquele tava fechando. A outra, eu vi: uma certa menina que chutou a bunda de um verdureiro em plena Avenida Rio Branco, em Santa Maria, com o dia amanhecendo. Sem falar no colega que mijou no All Star do parceiro, numa certa madrugada, em Minas do Camaquã. Esses são chinelos de fé. Sabem o prazer de uma chinelagem.
***
Em tempo: a foto aí de cima eu tirei em Jaguaruna (SC), na casa dos pais da Fernanda. O chinelo, no caso, é do Charles. E a estrela da foto é uma cadelinha véia, que tem obsessão por chinelos. Depois que ela rouba um, você só consegue pegá-lo de volta sem levar mordida usando um cabo de vassoura.

4 comentários:

Fernanda Meneghel disse...

A Niki agradece a menção e manda dizer que também adorou vcs. Hehehe! O que não faz uma gravidez psicológica na vida de um pobre animal...

Mais um desiludido disse...

Nada como uma boa chinelagem para aliviar a tensão que se vive a cada dia.

Fran Rebelatto disse...

Hheheheh, chinelagem não tem preço e ser chinelo é um mérito, muitos tentam, mas nada como um chinelo original...hehehe...

Teus textos são sensacionais, não dá vontade de parar de ler nunca...Este é o cara!!!

Beijos, queridão!!!

Tigerman disse...

Niki, é isso! Eu não lembrava o nome da cadela,,, Abração